Como era fantástico! Se ela já morria de curiosidade para saber como os homenzinhos entravam no rádio, imaginem o furor que a modernidade daquele aparelho lhe causou...
E tinha todo um ritual. Não era como hoje, só se sentar no sofá e pegar o controle. Não! A tv era coisa da cidade, de quando, muito raramente, ia à casa dos tios. A tv hipnotizava. Que mundo perfeito!
Um dos tios tinha uma TV pequena e sem cor, mas na casa do outro, ah! Tinha um aparelho grande! E colorido!
Dessa época ficaram em sua mente algumas cenas que nunca se apagaram. Parecem ter vida própria e ocupam boa parte do espaço reservado às lembranças.
Coisas bobas, vocês diriam, mas não pra ela. Para a Lebrinha são coisas de extrema importância, como a cena de um menino com o seu cavalo num filme antigo (o primeiro que ela teria visto?) onde ele puxava o cavalo e dizia "ela é uma dama." O cavalo, uma égua, estava adornado com flores. Tal cena nunca lhe saiu da cabeça. Por anos tentou lembrar que filme era aquele, e chegou a pensar que tudo não passava de uma alucinação.
Outra lembrança que insiste em se acomodar em sua mente é um pedacinho de um programa que passou à noite, apresentado por dois moços lindos e afinados. Chico e Caetano era o nome deles. Muito tempo mais tarde ela veia a saber que aquele programa era parte de uma série. Soube também quem eram os tais moços, já não tão moços assim e acabou gostando deles. Mas o programa, aquele pedacinho que ela viu na tv sem cores na casa do tio numa noite enquanto os adultos arrumavam a cama no chão da sala para ela e a mãe, ah, isso ela não esquece.
E o comercial de todynho? Um rio de achocolatado! Que coisa mais maravilhosa. Que vontade de estar lá.
Foram tantas as lembranças boas que a tv deixou em sua mente que mais tarde ela veio a se tornar uma tvmaníaca. Assistia a tudo o que pudesse. Durante anos esse foi o seu maior vício, a sua melhor companhia.
A primeira tv que entrou na casa dela foi adquirida através de um consórcio assim que ala conseguiu o primeiro emprego fixo e remunerado. Meses pagando e esperando o tão desejado e sonhado aparelho. Vinte polegadas, colorida, mas sem controle remoto, pra ficar mais em conta. Ela já tinha 15 anos!
Hoje ela tem na sala de casa uma 40 polegadas e paga tv por assinatura, mas quase não assiste, e no quarto tem uma 42 ligada ao aparelho de DVD. Noite passada ela viu um filme antes de dormir, mas a magia nunca mais foi a mesma...
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